A denúncia do desvio de mais de R$ 1 milhão apreendidos durante operação de integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), levou agentes da Corregedoria da Polícia Militar a fazerem nesta quinta-feira (9) a maior devassa na sede da tropa de elite, em Laranjeiras. O trabalho de investigação ainda cumpriu mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça nas casas de três oficiais e três praças.
Um dos mandados foi endereçado à casa de oficial que atua no comando do Bope. No entanto, nada foi localizado no imóvel. Dois foram presos por portarem armas irregulares em suas residências. Foram apreendidos ainda na ação da Corregedoria R$ 67 mil em dinheiro na casa dos militares, além de granadas, ampolas de anabolizantes, colete à prova de balas e munições.
Segundo as informações repassadas ao órgão, a equipe investigada pelo crime é composta por seis policiais — porém só metade estava de serviço. Três participaram de operação no Morro da Covanca, em Jacarepaguá, no dia 22 do mês passado. Foram apreendidas armas, drogas e munições na mata da comunidade. Porém, o dinheiro arrecadado não teria sido apresentado na 29a DP (Madureira), para onde o restante do material foi levado. Ainda segundo a denúncia, o valor foi dividido entre os policiais.
Na ocasião, participaram ainda da operação os batalhões de Choque (BPChoque), de Ações com Cães (BAC) e o Grupamento Aeromóvel (GAM). O marco da incursão na Covanca foi a estreia do novo uniforme camuflado da tropa de elite. O uso da roupa foi considerado sucesso porque os policiais ficavam mais integrado ao ambiente, sem serem notados facilmente por bandidos.
Até o início da noite desta quinta-feira, o major e o sargento presos prestavam depoimento. As identificações deles não foram divulgadas. Outro investigado é o major mais antigo lotado atualmente no Bope, que já atuou na Coordenadoria de Inteligência (CSI), setor estratégico de auxílio às investigações do Ministério Público. Mas ele foi devolvido por falta de interesse do órgão.
Os agentes da Corregedoria da PM suspeitam ainda de vazamento de informações sobre a operação feita ontem no Bope, já que nada foi localizado nos armários dos policiais no batalhão. Em nota, a PM informou que a ação feita na noite desta quinta-feira “foi a primeira parte de um Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar desvios de conduta.” O IPM corre sob segredo de Justiça.
Militar treinou traficantes da Maré
Investigações colocam a tropa de elite da PM em xeque. Terça-feira (7), ‘O Dia’ publicou que o sargento Arlen Santos da Silva, de 43 anos, quando lotado no Bope, treinava até homens da quadrilha do traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, preso ano passado. Ele chefiava o bando do Terceiro Comando Puro (TCP), no Complexo de favela da Maré, em Bonsucesso.
Segundo as investigações, Arlen ainda levou um dos traficantes do bando de Menor P ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), em Sulacap, onde compraram roupas e acessórios de uso exclusivo do Bope. E foi para lá que o ex-sargento foi transferido após as investigações, enquanto aguarda a conclusão do Conselho de Disciplina, que vai julgar a sua permanência na corporação.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram que Ronaldo Fonseca de Araújo Junior, o R 10, era o elo entre o chefão do pó e o policial, principalmente no vazamento de informações de operações do batalhão. Já Ericson Fernandes da Silva, o Leitão, seria o responsável pelos pagamentos de propina. Os três se falavam com frequência, às vésperas de ações nas favelas, como mostrou a revista ‘Veja’.
As investigações afirmam que Arlen agiu junto à quadrilha de Menor P entre agosto e dezembro de 2012. O bandido foi preso em março do ano passado pela Polícia Federal, quando era um dos traficantes mais procurados. Arlen orientava o bando sobre como escapar de flagrantes, deixando armamentos para trás.
Fonte: O Dia
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