Juca Bala (foto) era o doleiro de Cabral. Ele e outros participavam de esquema que movimentou quase R$ 4 bilhões
Nova fase da Lava Jato prende 47 doleiros durante operação Câmbio Desligo com mandados em 5 estados, no Distrito Federal e no exterior.
Os delatores do esquema Vinicius Claret, conhecido como Juca Bala, e Claudio Fernando Barboza, o Tony, foram liberados para cumprir prisão domiciliar. Eles ficaram presos por um ano e dois meses e agora terão outras restrições de liberdade previstas no acordo que firmaram.
Segundo o Ministério Público Federal, a organização criminosa, desarticulada nesta quinta-feira (3) pela Polícia Federal, movimentou o equivalente a R$ 3,7 bilhões, entre 2008 e 2017, através de transações pelo sistema dólar-cabo, que consiste na entrega de dinheiro em reais para um cliente no Brasil e depois na devolução em dólares para uma conta no exterior.
Coletiva
Segundo os procuradores, que deram entrevista coletiva no fim da manhã desta quinta-feira, foi montada uma complexa rede de doleiros com sede no Brasil, mas, a partir de 2003, com o aumento da fiscalização no país, alguns doleiros se fixaram no Uruguai. A rede operava com um sistema informatizado próprio, o Bankdrop, além de um esquema de registro de operações, chamado ST, no qual constavam os débitos e créditos de cada conta.
A rede movimentou cerca de R$ 1 milhão por dia, entre os anos de 2010 e 2016, em um volume total que passou de US$ 1,6 bilhão no período. Foram identificadas mais de três mil empresas offshores relacionadas ao grupo em 52 países. “Esses doleiros acionavam outros doleiros, o que permitia que as operações fossem feitas compensando o dinheiro em espécie que era entregue no Brasil pela organização criminosa do Sérgio Cabral, com os dólares que eram depositados em centenas de contas no exterior”, acrescentou El Hage.
De acordo com os procuradores, o valor referente ao esquema de Sérgio Cabral nessa rede seria de US$ 100 milhões. As investigações continuam para identificar quem são os responsáveis pelas offshores beneficiadas pelo esquema. Na operação desta quinta, foram identificados operadores financeiros e doleiros ligados a outros esquemas de evasão de divisas, como o do Banestado, do Transalão do PSDB de São Paulo, de PC Farias, da Odebrecht e da JBS, acrescentaram os procuradores.
“Com isso, vemos como as organizações se interligam e entrelaçam. Na operação desta quinta, temos os doleiros da JBS, Paco e Raul, que acabaram de ser presos no Uruguai. Tem também o operador financeiro do Artur Pinheiro Machado, que atuava com desvios de fundos de pensão, os irmãos Chebar, que atuavam com o Sérgio Cabral, a família Matalon, em São Paulo, que atua há décadas. E esperamos que, com o decorrer das investigações, surjam outros esquemas criminosos”, ressaltaram os procuradores.
Dario Messer
Principal alvo da operação, Dario Messer é um antigo doleiro do Rio de Janeiro que após o caso Banestado – maior escândalo de lavagem de dinheiro da história do Brasil – mudou sua banca para o Uruguai e para o Paraguai.
Messer seria o nome por trás do operador Vincius Claret, o Juca Bala, apontado pela Lava Jato do Rio de Janeiro como um dos responsáveis por lavar o dinheiro desviado pelo grupo do ex-governador Sergio Cabral (MDB). Na delação dos executivos da Odebrecht, Juca Bala é apontado como um laranja de Messer no Uruguai.
Na primeira delação de Alberto Youssef, em 2004, o doleiro aponta Messer como um dos “doleiros de doleiros”, responsável por dar “cobertura de mercado” a outros operadores financeiros menores que atuavam no dólar-cabo e em outras transações para lavagem de dinheiro.
Em um depoimento dado em 2004 ao juiz Sergio Moro e aos procuradores da força-tarefa CC5, Youssef disse que naquela época eram poucos “doleiros de doleiros” no Brasil e que um deles, além do próprio Youssef, era Messer.
“Bom, um era eu, a Tupi Câmbios, a Acaray, Câmbio Real, Sílvio Anspach, o Messer do Rio, o Rui Leite e o Armando Santoni. O Antônio Pires, eu nunca negociei com ele, então o meu relacionamento com ele era praticamente zero, eu conheço de nome, e sei com quem ele operava, mas nunca assim”, disse Youssef.
Operador de uma das contas da Beacon Hill – conta-ônibus no JP Morgan Chase, de Nova York, no qual vários doleiros brasileiros mantinham sub-contas, Messer foi um dos alvos da operação Farol da Colina, sob tutela do até então desconhecido juiz Sergio Moro. Somente na Beacon Hill, as autoridades encontraram movimentações de US$ 13 bilhões provenientes de brasileiros.
Quando os investigadores do Banestado chegaram a Messer, ele se mudou, segundo Youssef, para o Uruguai. “A mesa do Messer foi para o Uruguai, eles estão trabalhando lá com sistema de call back, o Juan Miguel que é do Integracion também está no Uruguai, também estão trabalhando com o sistema call back. Sobrou o pessoal do Rio que está lá, estão quebrados, mas ainda continuam no mercado operando um pouco”, afirmou o doleiro que deu origem à Lava Jato.
Fonte: Band News FM e Jornal do Brasil
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