23 de abril de 2016

13 - A cura do empregado do centurião de Cafarnaum, Mt 8.5-13

A cura do empregado do centurião de Cafarnaum, Mt 8.5-13
(Lc 7.1-10)

5 Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando:
(Centurio é um comandante sobre uma centúria = 100 homens. O exército romano era subdividido em legiões. Uma legião, de 6.000 homens, tinha 10 coortes. Uma coorte = 6 centúrias).
Quando o alvoroço do povo (causado pela cura do leproso) tinha se acalmado, Jesus retornou da solidão para Cafarnaum. O capitão (centurio) é um oficial romano. Cafarnaum era ocupada por uma guarnição romana de 100 soldados. O motivo é que Cafarnaum era uma cidade limítrofe. A divisa norte da Galiléia precisava ser mantida sob controle militar por causa do ódio aos judeus nas aldeias sírias e por causa da cobrança alfandegária.
6-13 Implorando: Senhor, o meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente (de nevralgia). Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faz isto, e ele o faz. Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes (sinal de máximo horror). Então, disse Jesus ao centurião: Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E, naquela mesma hora, o servo foi curado.
Depois de tudo o que a observação preliminar tentou esclarecer sobre o contexto histórico, a fé do oficial romano rebrilha com muito mais claridade. Ele via e sabia com que desprezo e com que ódio e escárnio os romanos olhavam para os judeus. Via e sabia, porém, também, como era horrível o ódio dos judeus contra os gentios. Para essa terra-mãe dos judeus ele agora tinha sido destacado por ordem superior, para essa terra da escória da humanidade, vergonha da raça humana.
O que encontrava ele, pois, na Palestina? Inicialmente só pecado, nojo, sujeira. Observava os representantes religiosos, os fariseus e escribas. Com imensurável orgulho olhavam cheios de desprezo para os pobres do próprio povo, e para os gentios (os romanos), aos quais cabe mentir e enganar, segundo opinião deles, sempre que houver oportunidade para isso. Depois o centurião via os publicanos que enganavam aos seus próprios concidadãos o máximo que podiam. Via, ademais, a pobreza ilimitada, a prostituição, e as muitas enfermidades. É o que o capitão via, de maneira que um romano orgulhoso na verdade só poderia apoiar o ódio aos judeus entre seus colegas.
Lucas relata essa história com mais detalhes e aprofundamento. Ao que parece, tem no coração o desejo de caracterizar o capitão gentílico como amigo humanitário. Mateus, por sua vez, foi marcado de modo impressionante pela palavra do Salvador. Essa recordação impressionante de Mateus é enfatizada pelo fato de que essa é a primeira vez que Jesus faz uma declaração severa contra a descrença de Israel e uma afirmação promissora sobre os gentios, que são aceitos na comunhão de mesa com os patriarcas de fé de Israel.
Não obstante, atrás da fachada suja e sombria o centurião viu algo que o fez prestar atenção – a fé dos judeus no único Deus, no Deus vivo. Ele estava farto da multiplicidade de divindades de sua religião romana. Sua alma tinha encontrado paz no Deus verdadeiro. E, “desafiando todas as autoridades e ponderações políticas”, tornou-se prosélito, prosélito da porta. Ainda que os oficiais romanos fizessem troça dele e talvez zombassem, ele confessava a fé do desprezado povo de Israel.
Contudo, não fez apenas isso, mas muito mais. Construiu para os judeus uma sinagoga. A maneira solícita pela qual, em Lc 7.1-5, os anciãos se empenharam em favor dele, dizendo com muita gratidão: “Ele ama o nosso povo”, demonstra o alto grau de consideração de que desfrutava entre os judeus. Um ditado rabínico afirma: “Se alguém constrói uma sinagoga, também pertence à sinagoga”. Em consequência, o capitão também pertencia à sinagoga. Em Cafarnaum também ouvira falar do Messias que estava para vir, das esperanças pela verdadeira salvação do mundo. Cada vez mais se lhe abriam os olhos para a glória invisível do reino de Deus. Nenhum medo diante da calúnia ou zombaria de seus compatriotas o detinha de participar nos cultos.
À construção da sinagoga pelo capitão foi concedida honra maior que ao templo de Salomão. Pois essa sinagoga tornou-se, como nenhuma outra, o centro da atividade de ensino de Jesus. Se antes o centurião já fora um visitante assíduo nessa sinagoga, com certeza a terá visitado agora, desde a chegada de Jesus, com muito mais pontualidade e com profundo anseio no coração, a fim de prestar atenção nas poderosas pregações de Jesus (Lc 4.32).
Mas ainda lhe faltava a comunhão pessoal com Jesus. Por isso o Senhor enviou uma aflição. Seu escravo adoeceu. Em geral, entre os romanos os escravos dificilmente eram considerados como pessoas, mas apenas como objetos que podiam ser comprados e vendidos. Porém o centurião considerava o empregado como “seu próprio filho”. Por isso dirigiu-se pessoalmente a Jesus e pediu ajuda. Lucas relata que o centurião fez com que os anciãos apoiassem sua petição, porque o sofrimento do servo lhe cortava o coração. O pobre escravo era tratado como se fosse a pessoa mais importante da cidade. Como esse gentio envergonha a muitos cristãos! O centurião solucionou de forma brilhante a questão social, a questão dos empregados, porque temia a Deus.
Jesus imediatamente se dispõe a ir até lá e ajudar. Nesse instante ouvimos da boca do centurião uma resposta curiosa: Não sou digno de receber-te sob o meu teto. O rico oficial sente-se indigno de que o Senhor entre em sua casa. Entrar na casa de um gentio era visto pelos judeus como uma contaminação. Com essa informação compreendemos a resposta humilde: “Não sou digno de receber-te sob o meu teto”. Deveríamos antes esperar o seguinte: “Seria constrangedor e incômodo para mim, se o senhor, Jesus, afinal um judeu, viesse à minha casa. Meus conhecidos ficariam escandalizados, cobrariam a minha responsabilidade, se deixasse entrar um judeu na minha casa. Minha posição requer a necessária cautela. O senhor não poderia curar à distância? Aí evitaríamos chamar atenção desnecessária e a questão ficaria entre nós.” De maneira semelhante muitos falariam hoje. Temos um medo incrível de cair na boca do povo quando nos declaramos seguidores de Cristo. Pensamos que teremos complicações desagradáveis com parentes e vizinhos. Pois também poderíamos ser cristãos “sem chamar a atenção”.
Com muita coragem de fé o capitão diz a Jesus: Basta que digas uma palavra e meu criado ficará são! “O senhor não tem necessidade de entrar em minha casa.” Como ele justifica essa afirmação? Com a seguinte comparação: “Eu sou uma pessoa – o senhor é o Senhor! Eu sou um subordinado e tenho de obedecer à autoridade – o senhor é o Senhor sobre tudo. Eu tenho sob meu comando poucos soldados – ao senhor tudo está subordinado. Quando eu dou uma ordem, ela é executada imediatamente. Os soldados, vão, vêm e fazem tudo o que eu ordeno. A obediência é tão pontual que não se levantam questionamentos, não se toleram delongas. Nem um único soldado da tropa tem coragem de dizer: „Não o farei!‟” Essa é a comparação do centurião.
Dessa ilustração ele conclui, pois: Jesus é capitão, é comandante no domínio dos poderes de cura. Se ele disser uma palavra, tem de realizar-se. Quem lhe poderia resistir? Se o senhor, Jesus, ordena à doença e fraqueza: “Sai!” então ela sai; e à saúde e força: “Venham!” então elas vêm. E o poder da morte precisa ceder.
Essa visão grandiosa e muito original de fé, ligada a uma humildade igualmente grande, causa espanto ao próprio Senhor Jesus, de modo que ele afirma, dirigindo-se aos seus seguidores: Em verdade vos digo que, em Israel, não achei ninguém que tivesse tal fé!
O Senhor aproveita o encontro com esse capitão para ampliar o horizonte de seus discípulos, dando-lhes a declaração: Virão muitos do oriente e do ocidente e tomarão lugares à mesa do reino dos céus com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes.
Jesus vê uma nova linha divisória atravessando a humanidade. Até então foi o povo eleito de Israel que tinha a declaração favorável de Deus com base na sua escolha por graça (Is 41.8; e outras vezes) e no pacto que ele fizera com Israel. Como “filhos do reino”, no sentido de “sacerdotes”, os judeus eram destinados a assentar-se no reino dos céus com Abraão, Isaque e Jacó. Estavam “dentro” e os gentios “fora” (Sl 147.13,20; At 14.16). Os judeus eram os “próximos” e os gentios os “distantes”. Israel estava “nas alianças da promessa” – os gentios ficavam “separados da cidadania de Israel” (Ef 2.12).
Agora, porém, chegou o Messias com sua mensagem: “O reino dos céus está próximo” (Mt 4.17), reivindicando que se tenha fé (Mt 9.28; Mc 4.40; 11.22; Lc 5.20; Jo 10.3 7s). Nesse ponto os “filhos do reino” fracassam (Jo 5.37s; 8.45s).
Como foi forte a rejeição dos fariseus e escribas e, enganadas por eles, das multidões contra Jesus e sua reivindicação de ser o Messias! Uma rejeição que obteve sua mais forte expressão no grito “À morte com esse!”, “Crucifica-o!”
Em contrapartida, o Cristo encontra fé entre os gentios: entre os samaritanos semi-gentílicos (Jo 4.42), nesse centurião, na mulher cananéia (Mt 15.28). Também destaca-se o samaritano dentre os dez leprosos (Lc 17.15-19).
A linha divisória, pois, não correrá mais entre judeus e gentios, mas entre crentes e descrentes. É uma linha divisória que passará no meio dos judeus e dos gentios.
Por isso acontecerá que do Oriente e Ocidente virão muitos gentios (como Is 49.12 profetizou), para assentar-se como crentes ao lado dos pais da fé Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Agora os gentios são “salvos por causa da graça mediante a fé” (Ef 2.8) – mas os judeus passaram, por causa da sua falta de fé, para a posição dos gentios (Ef 2.2), tornaram-se “filhos da desobediência”. Desse modo os “filhos do reino” tornaram-se “filhos da desobediência”, razão pela qual são expulsos para a escuridão, que fica “do lado de fora”. Lá haverá lamento e ranger de dentes: o lugar do horror!
A fé, no entanto, recebe o cumprimento de sua expectativa. Ninguém lança em vão sua confiança sobre Cristo. Enquanto o ser humano pela descrença traz desgraça sobre si, o que crê experimenta cura, atendimento, salvação.
Vai, como creste assim te seja feito! A palavra de Jesus confirma seu poder: Naquela mesma hora seu criado (no original “seu filho”) ficou são.
Fonte: Mateus - Comentário Esperança

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